"NEM TUDO QUE SE ENFRENTA PODE SER MODIFICADO, MAS NADA PODE SER MODIFICADO ATÉ QUE SEJA ENFRENTADO"

Pesquisar este blog

terça-feira, 17 de abril de 2012

EXPANSÃO DO COMPLEXO EUCALIPTO-CELULOSE NO CERRADO E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS CAMPO-CIDADE



Profa. Dra. Rosemeire A Almeida
Prof. MSc. Mieceslau Kudlavicz







RESUMO:

A presente análise busca evidenciar as condicionantes e os desdobramentos socioambientais da expansão do plantio de eucalipto no bioma cerrado, em especial no Estado de Mato Grosso do Sul – atual epicentro do modelo eucalipto-celulose.
A escolha dessa temática de estudo se justifica por ser o cerrado uma área de rápida expansão territorial do plantio de eucalipto aliada a instalação, na atualidade, da maior fábrica de linha contínua celulose-papel. A referida fábrica localiza-se no município de Três Lagoas/MS e pertence a FIBRIA (resultado da fusão das empresas Votorantim Celulose e Papel e Aracruz Celulose, em 2009).
O modelo celulose-papel atua por meio de uma rede do agronegócio que controla a produção, processamento, comercialização e distribuição, via internacionalização do capital. Por sua vez, a fonte de financiamento deste empreendimento é, em grande medida, o erário público, pois a disputa pelos recursos e pelo patrimônio fundiário tem sido vencida pelos mais fortes.
Como destacado, o cerrado sulmatogrossense tem sido a área preferencial de expansão do plantio de eucalipto sob controle das empresas nacionais e internacionais. Atualmente, a área plantada com eucalipto para produção de celulose em Mato Grosso do Sul é de 330 mil hectares, sendo que no período de 2005 a 2008 a expansão da área plantada foi de 83,1%. A projeção do Plano Estadual de Florestas do Estado de Mato Grosso do Sul é que a área plantada com eucalipto atinja 1 milhão de ha até 2020.
Alguns fatores têm determinado essa acelerada expansão territorial do eucalipto em direção ao cerrado, a saber: a presença de água em abundância propiciada pela bacia do rio Paraná; Incentivos fiscais e facilidades creditícias oferecidas na esfera estadual e municipal; Terras de baixo custo fruto da pecuária extensiva com presença de pastagens degradadas; Condições de solo e clima propícias ao crescimento do eucalipto; Flexibilização das leis ambientais por meio de resoluções que dispensam de licenciamento ambiental as atividades de plantio de eucalipto; Ausência de uma política de Reforma Agrária na região.
Enfim, neste tipo de negócio do eucalipto-celulose temos que pensar que estamos lidando com duas atividades impactantes, uma é a monocultura e a outra é a fábrica que extrai a celulose e faz o branqueamento. O primeiro caso é visível e por isso alvo de amplas discussões, mas a fábrica em si, uma vez aprovado o RIMA, cai no esquecimento até que alguma situação escape ao controle – como foi o caso do mau cheiro em Três Lagoas em 2009. Ou seja, o monitoramento da fábrica cabe aos de “dentro”. O que conhecemos hoje sobre o ar, o solo, a água, o tratamento dos efluentes oriundos do processo de branqueamento da celulose? Quase nada. Inclusive, em outros Estados, as informações também são escassas. O que sabemos é que nos países chamados “desenvolvidos” do Norte, com um controle ambiental bastante rigoroso, fábricas de celulose são mal vistas por seus graves impactos ambientais e, portanto, as empresas de lá têm transferido suas fábricas para países como o Brasil. Aqui, os defensores do modelo respondem que a legislação está sendo cumprida e que o Estado tem o controle, todavia quando buscamos informações, elas não aparecem. É uma clara perda de autonomia social frente à territorialização da fábrica e dos interesses privados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário