"NEM TUDO QUE SE ENFRENTA PODE SER MODIFICADO, MAS NADA PODE SER MODIFICADO ATÉ QUE SEJA ENFRENTADO"

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terça-feira, 22 de maio de 2012

Cúpula dos Povos

O FORSEP une-se aos esforços do CONIC - Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, divulgando a iniciativa de promover a conscientização de todos os cidadãos a respeito da necessidade de preservar o meio ambiente, dom de Deus e bem da humanidade. Por isso transcrevemos o manifesto de D.Manoel João Francisco, Bispo de Chapecó.
No deserto habitará o direito, e a justiça habitará no jardim. O fruto da justiça será a paz. (Is 32.16-17a)
Cúpula dos Povos – um chamado às Igrejas Este ano de 2012 comemoram-se vinte anos da realização da Eco 92, Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento sustentável, ocorrido na cidade do Rio de Janeiro. Entre as decisões tomadas a partir da ECO 92, destacam-se as Convenções sobre Mudanças Climáticas, Biodiversidade, Desertificação, a Agenda 21, a Carta da Terra, a Declaração sobre Florestas, Declaração de Durban. Para marcar este aniversário, a Organização das Nações Unidas - ONU realizará, entre 13 a 22 de junho, na cidade do Rio de Janeiro, a Rio+20. O objetivo dessa nova Conferência é avaliar os avanços e lacunas presentes na implementação das decisões tomadas há vinte nos sobre o meio ambiente e desenvolvimento sustentável, buscando renovar os compromissos políticos com o desenvolvimento sustentável. A Rio+20 debaterá dois temas centrais: “a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável”. Simultaneamente às atividades oficiais da Rio+20 acontecerá uma mobilização da esperança dos povos, de 15 a 22/06/2012 no Aterro do Flamengo, conhecida como a “Cúpula dos Povos". Este evento é uma iniciativa contestadora por não acreditar na proposta da Rio+20 de uma “Agenda Verde”. A Cúpula dos Povos é proposta e organizada pelo Comitë facilitador da Sociedade Civil, com a participação de movimentos sociais, ONGs, Igrejas e Religiões. O objetivo é ampliar e aprofundar os debates dos temas propostos pela Rio+20, com uma metodologia mais democrática e participativa, fortalecendo a política dos povos organizados. Com o chamado de “Venha reinventar o mundo”, a Cúpula dos Povos chama a atenção para os limites dos resultados da Eco 92. As decisões, que deveriam ter revertido a situação de miséria, injustiça social e a degradação ambiental frustrou as esperanças surgidas há 20 anos. A Cúpula dos Povos propõe como eixo de debate as causas estruturais da atual crise civilizatória, esperando afirmar paradigmas novos e alternativos construídos pelos que mais sofrem com a crise ambiental e apontar a agenda política para o próximo período. Ela tem como pano-de-fundo um contexto de representativa concentração de riquezas: vinte por cento da população mundial é dona de três quartos da riqueza mundial, enquanto oitenta por cento vive com menos de 10 dólares por dia. O modelo de vida atual é caracterizado pelo consumo. E para satisfazer as necessidades de consumo mundial, igualando aos padrões dos Estados Unidos, por exemplo, seriam necessários a capacidade de quatro Terras e meia. Povos inteiros podem ser condenados à indigência em função do esgotamento da capacidade produtiva do planeta. A pobreza gera imigração ilegal, que por sua vez, gera restrições de livre circulação, o que indica um aumento assombroso da segregação das populações pobres e dos conflitos armados no mundo. Como Igrejas, precisamos alertar para este momento histórico e decisivo para a humanidade. Propomos às nossas comunidades cristãs que estabeleçam sintonia, pela reflexão, oração e gestos concretos, com alguns momentos importantes dessa agenda: 1 - o primeiro chamado é para participar da mobilização global prevista para 5 de junho (dia do meio ambiente); 2 - o segundo é para sintonia espiritual no dia 17 de junho, quando ocorrerá a Vigília de abertura do evento da Cúpula dos Povos; 3 - o terceiro é para o dia 20 de junho, quando haverá nova mobilização internacional contra a mercantilização da natureza e a destruição ambiental. Sugerimos que as nossas comunidades sejam motivadas a realizarem alguma atividade nesses dias, refletindo localmente sobre as questões sociais e ambientais, com gestos simbólicos que expressem o nosso compromisso para com o cuidado da criação e o desenvolvimento sustentável. Vivemos riscos iminentes de barbárie contra a vida, o meio ambiente, as relações humanas. Convidamos nossas Igrejas a se unirem às vozes do mundo, que clamam por justiça, pelo direito à vida e pelo cuidado com a criação. Vida em abundância é a esperança evangélica que nos mobiliza. Dom Manoel João Francisco Presidente

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Comitiva de Juízes visita áreas indígenas em Mato Grosso do Sul.

Magistrados da Associação dos Juízes para a Democracia constatam graves violações de direitos e cobram medidas urgentes para o fim da violência e a demarcação definitiva das terras indígenas em MS. 04/05/2012. Fonte: Cimi/MS. Entre os dias 27 e 30 de abril, estiveram em Mato Grosso do Sul membros da Associação dos Juízes para a Democracia (AJD) em visitas por diversas aldeias indígenas do estado. Durante quatro dias de frio, os Magistrados conheceram algumas das mais conflituosas áreas indígenas em razão das lutas pela demarcação de terras. Participaram da comitiva a Desembargadora Kenarik Boujikian, do Tribunal de Justiça do estado de São Paulo, co-fundadora e ex-presidente da AJD, da ex presidente, a Juíza Dora Martins, além da secretária executiva da AJD, Juíza Fernanda Menna Peres, e de outros membros, como o Juiz de Direito Luis Fernando de Camargo Barros Vidal e a Juíza Fernanda Carvalho. Também acompanharam as visitas o advogado da Justiça Global, Eduardo Baker, e Jônia Rodrigues, representante da FoodFirst Information and Action Network (Fian), além da Procuradora do estado de SP, Ana Paula Zommer e da Jornalista Caroline Bittencourt. Representantes do Conselho Indigenista Missionário e lideranças indígenas também acompanharam as atividades. Além das aldeias, os Juízes também compareceram na II Cuña Aty Guasu (Grande Reunião das Mulheres) Kaiowá-Guarani de MS, que estava sendo realizada na aldeia Jaguapirú, em Dourados. Reuniram-se ainda com os Procuradores da República, Marco Antonio de Almeida e Tiago Luz, do Ministério Público Federal em MS, visando buscar mais informações sobre a realidade local. Kurussú Ambá Recebidos com rezas (jeroky), na visita a aldeia Kurussú Ambá, localizada entre os municípios de Amambai e Coronel Sapucaia, percebeu-se prontamente a imensa alegria dos indígenas com a presença da caravana. Com crianças brincando e correndo por todos os cantos a resistência dos povos indígenas se traduziu naquilo que a Juíza Dora Martins afirmou: “em Kurussú Ambá você verifica a pobreza e as dificuldades, mas vê um alento”. A terra vem sendo reivindicada há anos pelos Kaiowá-Guarani mas ainda não foi demarcada pelo Governo Federal. Após a decisão do Tribunal Regional Federal da 3º. Região (TRF3) em assegurar a posse de uma pequena parcela desta terra, ocupada pelos Kaiowá-Guarani em 2010, as condições de vida das famílias melhoraram, mas as lideranças ainda manifestam preocupação com a falta da demarcação definitiva e com as questões de segurança de seus membros. Os representantes da AJD ouviram atentamente os relatos sobre o histórico de violências ocorridos desde janeiro de 2007, com lideranças assassinadas, baleados, atropelamentos, indígenas presos e casos de morte de crianças por desnutrição. Fatos que ocorreram durante a movimentação dos Kaiowá-Guarani pela ocupação de suas terras tradicionais ainda não demarcadas. Milho, mandioca, batata, feijão e arroz foram exibidos com orgulho aos Juízes em grandes potes cuidadosamente preparados pelos indígenas para a recepção. Nesta pequena parcela de terra, os Kaiowá-Guarani já conseguem produzir alguns alimentos, em pequenas roças, mas afirmam que ainda não possuem condições de produzir o suficiente para alimentar toda a comunidade por falta de espaço. A terra que estão ocupando trata-se de pequena área de “reserva legal”. Mata nativa que os indígenas se recusam a derrubar para as roças, sendo poucos os espaços já abertos e que possam ser utilizados para o plantio. A cesta básica fornecida pelo Governo Federal ainda é fundamental para a comunidade. O acesso a educação escolar na aldeia foi muito destacada pelos Kaiowá-Guarani. Uma escola no local ocupado vem sendo negada pelas autoridades responsáveis. As crianças indígenas tem de percorrer todos os dias cerca de 20 Km a pé para chegarem á escola mais próxima localizada na antiga reserva “Taquaperi”. Na opinião do Juiz Luis Fernando de Camargo Barros Vidal, “a situação verificada em Kurussú Ambá, onde as crianças tem de percorrer, a pé, 20 Km de distância até a escola na Reserva, deve ser revertida com a instalação urgente de uma escola na própria aldeia de Kurussú Ambá”. A impunidade foi um dos destaques nas falas dos Kaiowá-Guarani. Segundo os indígenas, muitos agressores, como os assassinos da rezadeira Xurite Lopes e da liderança Ortiz Lopes, mortos em 2007, continuam soltos e a ameaçar a comunidade. Além disso, quatro indígenas baleados, nos casos ocorridos em 2007, ainda se encontram com balas alojadas no corpo. Os projéteis e suas cicatrizes foram mostradas aos Juízes. Guayviry Com as rezas de recepção logo vinham as crianças. Muitas. Visivelmente compondo a grande maioria dos indígenas na área. Com elas, muitas mensagens escritas em pedaços de papelão e faixas que seguravam altivamente e com imensa alegria, mas que relatavam a dor, a violência e os pedidos urgentes de soluções por parte do Estado brasileiro. A demarcação da terra e o fim da violência eram as principais reivindicações. Recebidos pelos familiares do cacique Nísio Gomes, liderança religiosa que foi atacada por pistoleiros em ação ocorrida na área em 2011 e que está até hoje desaparecido, os Juízes se emocionaram com o relato de agressões e os clamores pelo fim dos conflitos. No local onde Nísio tombou os presentes fizeram um minuto de silêncio em meio à mata exuberante que os envolvia. E os relatos de novas ameaças e agressões continuaram. Para a Juíza Dora Martins “Guayviry foi o símbolo da exposição do índio à falta de segurança no Brasil”. Passo Piraju A comitiva ainda visitou a aldeia Passo Piraju, em Dourados, outra área onde ocorreram graves casos de agressões e violências contra os Kaiowá-Guarani. Em 40 hectares assegurados pelo TRF3 em 2008, a pequena comunidade tenta sobreviver com roças cercadas por imensos canaviais, onde os agrotóxicos utilizados na monocultura têm produzido graves impactos sobre a saúde dos indígenas. Foram relatados os casos de violência contra a comunidade envolvendo policiais de Dourados, incluindo os relatos sobre um “Rancho Pesqueiro” instalado contíguo à comunidade às margens do Rio Dourados e cedido à policiais pelo próprio fazendeiro incidente na terra indígena. Segundo o cacique Carlito de Oliveira, “acabando a piracema os tiros voltam... nós já avisamos as autoridades”. Uma grande escola vem sendo construída na área. Segundo os indígenas, a escola vai melhorar muito o atendimento da educação para as inúmeras crianças. Porém, a questão da saúde ainda carece de melhorias. O atendimento vem sendo feito a “céu aberto” e os indígenas pedem a construção de um local adequado. Aldeias Urbanas A comitiva de Juízes ainda visitou as aldeias urbanas “Marçal de Souza” e “Água Bonita” localizadas em Campo Grande. Em “Água Bonita” ficou claro o descontentamento dos indígenas pelas suas condições atuais. Segundo estes, há anos reivindicam que o Governo de MS regularize uma pequena parcela de terra que pertence à aldeia urbana, mas que não se encontra na posse da comunidade. Na aldeia “Marçal de Souza”, os Juízes conheceram o “Ponto de Cultura” da comunidade além do grande “Quiosque” instalado pela Prefeitura de Campo Grande para receber os “turistas” e vender artesanatos. Os indígenas da aldeia, em sua totalidade sendo do povo Terena, reclamam que este espaço não atende suas expectativas e reivindicações, servindo apenas para os interesses de atravessadores e da própria prefeitura. Situação de emergência As conclusões retiradas pelas visitas dão conta de que o cenário local é de graves violações de direitos humanos e descumprimento da constituição federal brasileira e carecem de medidas emergenciais visando à solução dos problemas que afetam as comunidades. Na opinião da Juíza Fernanda Menna Peres, “não esperava que fossem tantas condições precárias. A questão da Justiça foi muito destacada pelos indígenas, pois estes não têm obtido respostas desta mesma Justiça e que eles respeitam muito. Senti sendo muito cobrada com isso. O que a gente leva daqui é uma mensagem deles para o Judiciário”. E acrescenta, “foi uma oportunidade ímpar para entender a gravidade do que significa a PEC 215, pois a demarcação de terras é a mais premente questão e todo o resto é desdobramento de tudo isso.” Para a Juíza Dora Martins, “fiquei todo tempo me checando entre a visão romântica e a realidade sobre os povos indígenas. As visitas nas aldeias me colocaram em várias perspectivas deferentes. A Aty Guasú, sem dúvida, foi muito importante. Ao nos colocarmos como Juízes foi muito desconfortável. Achei muito gritante a situação toda. Estes povos estão aumentando a sua população. Temos que sensibilizar o STF para que julgue os processos rapidamente.” Segundo a Desembargadora Kenarik Boujikian, “para mim é muito impactante, muita emoção. A necessidade de julgamento imediato dos processos em tramitação no Supremo Tribunal Federal deve ser enfrentada com prioridade além de outras medidas a cargo da AJD”. Para Flávio Vicente Machado, do Conselho Indigenista Missionário, “Trata-se de um momento único com a presença de Magistrados conhecendo de perto a realidade dos povos indígenas. A AJD é muito conhecida pela sua imensa respeitabilidade e inegável importância para a sociedade. Durante esses dias fizeram história na historia dos Kaiowá e Guarani.” Além dos Juízes, a representante da Fian/Brasil, Jônia Rodrigues, destacou que “as atividades foram muito importantes pela proximidade com as comunidades, pois estivemos aqui em outros tempos e pudemos verificar que as violações de direitos continuam ocorrendo”.